A ansiedade começa ainda na gravidez, quando dá por si a pensar em que escola vai inscrever o seu bebé. 

Talvez nem sequer lhe passe pela cabeça uma creche privada, pois não?

Claro que não. Toda a gente sabe que “as creches privadas são caríssimas”...

 

Vamos aos números para que se perceba melhor. 

 

Numa creche do setor social — e de acordo com o último protocolo de cooperação assinado em julho de 2021 - por cada criança o Estado comparticipa 293,66€.

Este valor aumentou quase 4% em relação ao ano anterior. 

 

Se a instituição prolongar o horário recebe mais 571,17€.

 

Para além disso, o Estado comparticipa em 80% o ordenado das educadoras. 

 

Cada creche do setor social cobra ainda aos pais uma mensalidade em função dos respetivos rendimentos. 

 

Esse valor pode ir de 80 a 280€ (valores médios onde o tecto máximo não está definido na Lei, pode bem ser superior)

 

Compreendemos que a esta altura as contas já sejam confusas, por isso aqui fica um breve exemplo:

 

  • Se uma sala de creche tiver a lotação máxima permitida (16 crianças);

  • Se o salário bruto da educadora dessa sala for de 1.200 euros/mês;

  • E se a creche estiver aberta mais de 11 horas diárias...

 

… Uma IPSS recebe do Estado 6.230,26 euros/mês pela sala em questão. 

Isto, sem contar com as mensalidades pagas pelas famílias.

 

Está a perceber onde é que começa a desigualdade? 

 

Quando falamos da mensalidade numa creche privada, os valores rondam os 300€ e podem ir até 450€ nas grandes cidades.

 

Ora, as creches privadas não têm margem para baixar as mensalidades porque, simplesmente, não recebem qualquer apoio. E sem apoio, é claro que não há margem... 

 

Susana Batista, presidente da ACPEEP, considera que “o Estado está a contribuir para a discriminação das crianças e das famílias e a potenciar a rápida extinção das creches privadas e de todo o investimento feito nesta área.” 

 

Aquilo que queremos é, então, que o Governo não faça distinção no apoio que presta às famílias, quer estas frequentem creches privadas, quer creches do tipo IPSS e Misericórdias, aproveitando-se assim as vagas existentes.

 

O que acontece agora é que muitas famílias, sem vaga numa IPSS e sem possibilidade de pagar uma mensalidade numa creche privada, têm de ficar com as crianças em casa ou pedir ajuda (quem os tem por perto) dos avós. 

 

Assim, temos numa mão famílias sobrecarregadas e IPSS cheias, e na outra creches privadas vazias e em risco de falência.

 

Parece-lhe justo?