A crise que atravessamos não é apenas uma questão de gestão interna ou de cumprimento de rácios legais. É, acima de tudo, um drama social profundo, que afeta diretamente crianças pequenas, famílias trabalhadoras e comunidades inteiras.
As creches privadas e os jardins de infância têm sido, ao longo dos anos, um pilar essencial no apoio às famílias, permitindo que pais e mães possam trabalhar com tranquilidade, sabendo que os seus filhos estão em ambientes seguros, estimulantes e afetivos. No entanto, a escassez de educadores de infância com mestrado (o que é exigido na lei) está a colocar em risco esse equilíbrio.
Para as crianças, esta instabilidade significa:
- Atrasos no início do ano letivo, com impacto no seu desenvolvimento emocional e social.
- Mudanças constantes de adultos de referência, o que gera insegurança, ansiedade e dificuldade de adaptação.
- Falta de continuidade pedagógica, essencial nos primeiros anos de vida, onde cada estímulo conta.
Para as famílias, o impacto é devastador:
- Pais que não têm alternativa senão faltar ao trabalho ou recorrer a soluções improvisadas e muitas vezes inseguras.
- Mães que, por falta de vaga ou de educador, são forçadas a adiar regressos ao trabalho, comprometendo rendimentos e estabilidade financeira.
- Famílias que confiaram nas instituições e agora enfrentam incerteza, frustração e medo de não conseguir garantir cuidados adequados aos filhos.
Para as instituições, o cenário é de desespero:
- Salas prontas, com crianças inscritas, mas sem profissionais para abrir portas.
- Risco de sanções por incumprimento de rácios, mesmo quando tudo foi feito para contratar.
- Pressão emocional sobre direções e equipas, que tentam manter a qualidade e a confiança, mas sem meios humanos suficientes.
Este não é um problema pontual. É uma crise sistémica, que exige medidas urgentes e estruturais. A falta de educadores não pode continuar a ser ignorada ou tratada como uma dificuldade isolada de cada creche. É uma ameaça real ao direito das crianças à educação e ao apoio às famílias trabalhadoras.
Pedimos, com urgência, que a Segurança Social e o Ministério de Educação reconheçam esta realidade e atuem com sensibilidade, flexibilidade e visão social. O futuro de muitas crianças e famílias depende disso.
A Presidente da Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino Particular